4.1.12

Ismael e Chopin




O Bicho conhece a linguagem dos animais, das árvores, do vento e dos humanos.  Um dia, a brisa  do entardecer  contou-lhe uma história. Era sobre a  amizade de um coelho bravo com um humano (um humano muito especial). O coelho, de seu nome Ismael, apaixonou-se pela música  desse humano, de seu nome Chopin.  A história  começa assim:

O meu nome é Ismael. Sou um coelho bravo e vivo

no bosque. Tenho uma família muito grande — 52 irmãos — e fui
o filho número 29 dos meus pais. Na noite em que eu nasci, o meu
pai — que já estava cansado de ajudar a minha mãe a fazer nascer os
filhos e a escolher nomes para eles — resolveu dar a todos um nome
terminado em “el”. E foi assim, também, que naquela noite foram
batizados os meus irmãos Leonel, Ezequiel, Daniel, Miguel, Isabel,
Maribel e Manuel.
Não sei por quê, de todos os seus 53 filhos, eu fui aquele que o
meu pai escolheu para ficar sempre junto de si e para aprender com
ele tudo o que tinha para ensinar. Porque o meu pai era o coelho
mais inteligente da família e de todo o bosque. Ele sabia coisas que
ninguém mais sabia, coisas que lhe tinham sido também ensinadas
pelo pai dele e que este tinha aprendido do avô, e este do bisavô e
por aí afora, até há muito, muito tempo atrás.
Assim, mal eu tinha começado a caminhar e a saber o caminho
de volta para a nossa casa, um dia em que ia a entrar para a toca, encontrei
o meu pai à entrada, sentado com um ar pensativo e roendo
um caule de couve.
— A bênção, meu pai! — disse eu, passando por ele.
Mas ele agarrou-me pelo pescoço, puxou-me para si e perguntou:
— Tu como te chamas, filho?
— Ismael, meu pai. Foi o senhor que me batizou.
— Ah, sim, já me lembro! A noite do Leonel, do Ezequiel, da
Isabel...
— E do Daniel, da Maribel...
— Pois, pois, já me lembro! Anda cá, tu pareces ter um ar de
coelho esperto: queres que te ensine tudo?
— Tudo o quê, meu pai?
— Tudo o que eu sei, tudo o que a nossa família sabe, desde há
muito tempo. Todos os segredos do bosque, todos os segredos do
mundo. Queres?
— Quero, pai.
E foi assim que o meu pai me levou a conhecer o mundo.




Ilustrador: Fernanda Fragateiro
Ano de edição: 2010

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